terça-feira, 10 de agosto de 2010

Imagine: crescendo com meu irmão John Lennon


Sempre gostei de ler biografias. Apesar de não ter lido tantas assim, volta e meia empresto ou compro alguma. Desta vez, ao visitar um grande amigo não resisti e pedi emprestado o livro Imagine: crescendo com meu irmão John Lennon.

Trata-se de uma biografia indireta de John Lennon porque foi escrita por sua meia-irmã Julia Baird. Lembro-me vagamente de ter visto uma entrevista que ela concedeu ao Fantástico na época do lançamento, em 2008, mas não me recordo do que havia dito e também o modo como recebi a notícia. Enfim, o que lembro é a surpresa em saber que John Lennon tinha uma irmã.

O livro é muito interessante, e em muitos momentos bem empolgante. Mas a palavra mais expressiva para nomeá-lo seria: revelador. É a biografia não de John Lennon, mas a história da família de Lennon, contada sob a ótica, vale lembrar, de sua meia-irmã, Julia Baird.
Ela é filha de Julia Stanley Lennon com John Albert (Bobby) Dykins, seu segundo marido. Já John Lennon é fruto do primeiro casamento com Alf Lennon. Há mais uma irmã chamada Jacqueline Dykins, ou Jackie, a caçula, além de outra, a segunda logo após Julia, chamada Victoria Elisabeth, fruto de um caso extraconjugal de Julia durante um dos “sumiços” do pai de Lennon. Ela passou a ser chamada de Ingrid e foi entregue a um casal da Noruega, mas que acabou vivendo por muitos anos a poucos quarteirões de sua verdadeira família e John Lennon nunca soube de sua existência. A própria Julia, a autora do livro, foi saber que tinha mais uma irmã muitos anos depois. Esse foi o maior segredo da família de Lennon, uma sombra que pairou por muito tempo sobre a cabeça dos que o guardaram, uma sombra maior e mais densa que a suposta vergonha que os motivou a tomar tal decisão.

O livro se torna revelador principalmente em relação aos conflitos familiares na vida John Lennon, a falta de comunicação e os preconceitos enfrentados e que muitas vezes se convertiam em sofrimento silencioso pelos membros da família. As imagens que mais mudam com a leitura desse livro são a da mãe de Lennon e de sua tia Mimi.
Julia Lennon
Lembro-me de ter uma impressão, com base no que tinha lido antes e com o que tinha visto em vídeos, não digo negativa sobre ela, mas a consciência de que ela tinha na verdade abandonado seu filho, por um misto de irresponsabilidade e dificuldades para educá-lo sozinha. Uma impressão ambígua porque para mim ainda ficavam perguntas no ar sobre o porquê de ela tê-lo “abandonado”. É sabido que os dois tiveram uma convivência muito boa quando ele já era maior, que foi cortada subitamente com sua morte, mas não havia pormenores sobre simplesmente por que ela não tinha ficado com ele, ou por que ele não tinha voltado a morar com ela depois que ela voltou.
A impressão se dissipou. E esse é o intuito maior dessa biografia. Como filha, Julia Baird se preocupa em reconstruir a imagem negativa que existia de sua mãe. Com o livro ela quer dizer: as coisas não foram bem assim.
Os tempos eram outros, e não havia meios como hoje de as mulheres encararem a sociedade diante de dilemas como decidir com quem casar ou enfrentar uma gravidez sozinhas, criar filhos sozinhas. Tudo isso pesou sobre Julia Lennon e causou um enorme impacto na família toda, mesmo ela tendo depois uma relação estável, não tinha conseguido, principalmente diante das irmãs, se livrar da letra escarlate no peito.
Tia Mimi

Por outro lado, a imagem da tia Mimi era a da tia que tinha se sacrificado para dar uma boa educação ao menino John, além é claro da imagem de super-protetora. Esta, permaneceu, porém o que não se sabia era a batalha que ocorreu pela guarda de John Lennon, e como a tia Mimi teria o tirado da mãe e depois, com a ajuda do pai, Pop, (avô de Lennon) o afastado o quanto pôde de Julia. O sofrimento que Julia passou por ser considerada pecaminosa, e sua casa um antro de pecado, por seu primeiro casamento desaprovado pela família, mas mais ainda pela gravidez fruto de uma traição. Há mais revelações sobre o caráter de tia Mimi que mudam muito sua imagem, não que haja o tempo todo uma condenação por parte de Julia Baird, pelo contrário, ela é bem ponderada, fruto da experiência dos anos.
A imagem que fica, tanto de Julia Lennon como de tia Mimi é a de seres humanos, com defeitos e qualidades. O bom dessa biografia é isso, ela desfaz as imagens idealizadas das duas primeiras figuras femininas importantes na vida de John Lennon.

O livro Imagine: crescendo com meu irmão John Lennon é muito interessante para quem quiser observar mais detalhadamente a vida familiar de Lennon pré-Beatles. Muito do que ocorre depois é fato de conhecimento público. Há, é claro, fatos reveladores também em relação a Yoko Ono, por exemplo, que, na versão de Julia Baird, ganha mais ares de dominadora do que comumente se pinta.

Vale a leitura para quem quiser ter essa visão interna. Como a escrita é toda sob o prisma da irmã, ela é limitada quanto a aspectos da vida profissional de Lennon, ainda mais uma irmã, que por ser ignorada pela família a partir de um momento não tem muito acesso ao irmão, até perder completamente contato com ele. Mas, sobre a vida de Lennon como Beatle e na fase pós-Beatle há material farto a ser consultado.




sexta-feira, 23 de julho de 2010

O livro...

...o livro só vai de encontro ao que existe anteriormente no coração, na experiência de pensar ou de viver.

O narrador de Tempo de Amar, de Autran Dourado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre a Filosofia




Sobre a Filosofia:

“A filosofia, se bem que incapaz de nos dizer ao certo qual venha a ser a verdadeira resposta às variadas dúvidas que ela própria evoca, sugere numerosas possibilidades que nos conferem amplidão aos pensamentos, descativando-nos da tirania do hábito. Embora diminua, por consequência, o nosso sentimento de certeza no que diz respeito ao que as coisas são, aumenta muitíssimo o conhecimento a respeito do que as coisas podem ser...”

Bertrand Russell em Os Problemas da Filosofia.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Roger Wates e David Gilmour



No último dia 11 ocorreu um encontro no mínimo inesperado, mas muito desejado pelos admiradores da obra da banda britânica Pink Floyd. Sem nenhum alarde, sem grandes anúncios na imprensa e, por isso, sem gerar nenhum tipo de expectativa (ainda bem!) Roger Waters e David Gilmour se uniram para tocar três músicas: Confortably Numb, Wish You Were Here e To Know Him is To Love Him, dos Ted Bears (música frequente nos ensaios dos tempos áureos do Floyd), além de Another Brick in the Wall II, solicitada como biz por um milionário mais exaltado da seleta plateia. Chegaram a oferecer mais dinheiro por outras músicas, mas ficou só nessas mesmo, com o pequeno show arrecadando aproximadamente 35.000,00 libras.



Tratou-se de um show beneficente em prol da Hoping Foundation, uma espécie de ONG que ajuda crianças palestinas.



Foi um encontro mágico, inesperado ainda mais por conta das últimas declarações de Waters de que tinha convidado Gilmour a participar da turnê do The Wall e que ele mostrou-se completamente desinteressado. o próprio Gilmour escreveu em seu blog: Bem, bem, bem... por essa vocês não esperavam.



No Youtube pode-se encontrar o audio do show, e espero que surjam vídeos no futuro e mais parcerias entre os dois que pelas fotos parecem ter deixado definitivamente suas diferenças no passado.





Links com essa notícia:


http://www.davidgilmour.com/


http://www.davidgilmourblog.com/


http://www.karenkoltraneradio.com/index/noticias/noticia/325


http://www.rollingstone.com/music/news/17386/180387





quarta-feira, 14 de julho de 2010

Clássicos versus Contemporâneos

Há algum tempo que me dedico à leitura dos clássicos. Com a visão de que eles são referência a autores de diferentes épocas, criei o receio de deixar escapar essas referências, essas intertextualidades em minhas leituras, seja de clássicos mesmo, seja de contemporâneos. Outro motivo também é a impressão de escassez de coisas boas na produção atual, e o risco que se tem de perder tempo com leituras... digamos, supérfluas. Porém, a leitura de um clássico, o Discurso do Método, de Descartes, me chamou a atenção sobre isso. Segue o trecho:

“[...] quando somos demasiado curiosos do que se praticava nos séculos passados, ficamos ordinariamente muito ignorantes das coisas que se praticam no presente.”

Eu que me apoiei na segurança dos clássicos, me sobressaltei diante do risco que estou novamente correndo sem saber.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Apego

Quando se anda sob corda bamba
De olhos fechados apenas e só
Sentindo o abismo derramado sob os
pés

E, então?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O lapso no limbo


...desce as escadas da clínica a passos nervosos, quem vê pensa se tratar de desabalada fuga. Na verdade, é uma busca, anseia um lugar sem ninguém por perto, não quer que vejam sua reação, qual seja; se choro convulsivo, se riso histérico, não importa, o que quer é rasgar essa página de sua vida, apagá-la completamente. Um par de olhos, mesmo estranho, é uma testemunha, argumenta para si. Quem garante que tais olhos hoje estranhos não possam ser conhecidos amanhã, puxa, como você estava feliz aquele dia, era você no Solar, não? vamos, me conta a novidade, diria, ou, não era você o cara que eu vi chorando na praça do Solar? o que aconteceu, quem sabe possa ajudar. Não! Não quer ajuda. Quer é ficar sozinho, só isso. Anda apressado, desviando dos demais, tá cego ô babaca, ouve a voz que fica para trás, o ombro direito levemente dolorido pelo choque, dá-se conta da mão vazia, volta, outra mão lhe estende o envelope, toma moço caiu isto enquanto... obrigado. Vira-se e continua a busca por uma clareira. Para um instante, de assalto lhe vem a infância, os risos, o sol de um intenso diferente, um mundo de cores vivas diverso do atual, cores radiantes, um mundo onde tudo parecia eterno, as brincadeiras imitando a vida adulta, depois, a adolescência rubra, as dúvidas, as descobertas solitárias, insólitas ramificações da deliciosa sordidez de um mundo de pulsões... Então vê uma ruela que lhe apaga as imagens desconexas, a ruela que agora é seu chão, e com passos ainda nervosos, mas firmes, segue até ela. Ao chegar, percebe se tratar de uma estreita rua que dá nos fundos de uma loja, seria o lugar ideal não fosse o risco de aparecer algum funcionário para furtivamente fumar seu cigarro, mas teria que ser ali, seria difícil encontrar uma clareira naquela cidade. O envelope umedecido pelo suor da mão, levou-o ao peito e, recostando o corpo na parede úmida, vê o céu estreitado pelos prédios, a boca aflita sugando a atmosfera fria da manhã e expelindo o calor do corpo na forma de vapor, volta-lhe a angustiante condição. Relembra algumas aventuras e que nunca se cuidara, os avisos temerosos, agora poderia ser tarde, mas também, ao contrário, poderia ser o recomeço, sim seria, decide. Pensa em Norminha, conheceram-se há um mês, no início era uma brincadeira, agora se via apaixonado. Sente-se culpado por não dividir essa dor com ela, envolvida sem nem imaginar. O que faria se o pior acontecesse? Só ele sabia que o futuro deles estava represado em um pedaço de papel: aí é que estava seu maior medo. Dentro do envelope, a condenação ou a redenção: fecha os olhos, sente e ouve o papel sendo rasgado, cedendo à...

− Ô, Heitor. Disse a mãe. Vem me ajudar com as compras!
Os olhos nublados, como se por horas ao sol, súbito tivesse entrado em um ambiente de luz artificial, fraca, sentiu uma leve vertigem. Nem marcou o livro, não precisava, deixou-o ali deitado no sofá. Completamente absorto pela leitura, não teria como recuar, porém, outra história o chamava.